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A INAUGURAÇÃO DA FÁBRICA DE CHARUTOS SUERDIECK: UM MARCO HISTÓRICO PARA CRUZ DAS ALMAS

Há  89 anos, em 3 de novembro de 1935, Cruz das Almas celebrou um importante momento para sua economia e identidade local: a inauguração da fábrica de charutos Suerdieck, um empreendimento que mudaria o perfil da cidade e ampliaria suas perspectivas de crescimento. Esta nova instalação vinha somar-se aos armazéns de fumo que a empresa já mantinha na cidade, fortalecendo a economia local e consolidando a presença de Cruz das Almas no cenário nacional como polo produtor de charutos e cigarrilhas.

Essa história, no entanto, começou muitos anos antes, em 1888, com a chegada de August Wilhelm Suerdieck, um jovem alemão enviado pela firma F.H. Ótens para supervisionar o enfardamento do fumo na região. Vindo de uma família intimamente ligada à cultura do tabaco – seu pai era comerciante, e seu avô, produtor na Europa – August possuía o conhecimento e a paixão pela indústria. Em pouco tempo, ele alçou voos próprios e, em 1892, fundou seu primeiro armazém em Cruz das Almas, um passo que culminou, em 1899, na criação da empresa A. Suerdieck, com foco no enfardamento, exportação e comércio de fumo.

A fábrica de charutos, que ocupava um quarteirão inteiro, ali entre as ruas XV de Novembro, Crisógno Fernandes e Dr. Ribeiro dos Santos, destacou-se pela imponência e pela movimentação que trouxe para o centro da cidade.

E a sua existência era de uma importância inquestionável. Além de gerar empregos, especialmente para mulheres, a fábrica consolidou o setor industrial de Cruz das Almas, oferecendo estabilidade econômica a uma cidade até então restrita ao comércio de fumo.

O sucesso da Suerdieck foi também resultado do apoio recebido do governo local. O prefeito da época, Dr. Luiz Eloy Passos, e o deputado federal Dr. Lauro Passos, foram peças-chave na concretização da fábrica na cidade, oferecendo o suporte necessário para atrair e manter o empreendimento. Naquele período, Cruz das Almas dispunha apenas de armazéns para o processamento do fumo, o que limitava o desenvolvimento econômico. A instalação da Suerdieck trouxe nova vitalidade, gerando empregos e transformando a cidade em um importante ponto de produção de charutos e cigarrilhas no Brasil.

Por décadas, a Suerdieck foi a maior produtora de charutos e cigarrilhas do país, uma marca de excelência e tradição que conquistou o mercado nacional e internacional. No entanto, como tudo na vida, a história da Suerdieck em Cruz das Almas também chegou ao fim. Em 2000, a fábrica encerrou suas atividades, encerrando uma era de mais de um século de contribuição econômica e cultural para a cidade. Após o fechamento, o prédio foi levado a leilão e vendido em partes, diluindo-se na memória e na paisagem da cidade.

Hoje, a Suerdieck faz parte da memória afetiva de Cruz das Almas e representa uma época de progresso e transformação. É uma lembrança do potencial industrial que marcou a história local e um exemplo do quanto a união de esforços entre governo, empresariado e comunidade pode trazer prosperidade e novas oportunidades para uma cidade.

Edisandro Barbosa Bingre

Edisandro Barbosa Bingre é professor, escritor, cerimonialista e pesquisador memorialista de Cruz das Almas. Ele é membro da Academia Cruzalmense de Letras e destaca-se por seu trabalho com o "Almanaque Cruzalmense", onde documenta e preserva a história e a memória cultural da cidade. Bingre é reconhecido por suas contribuições literárias e históricas, trazendo à tona fatos importantes e curiosidades sobre a região, além de ser uma figura ativa na comunidade intelectual de Cruz das Almas​. No ano de 2020 recebeu o Título de Cidadão Cruzalmense outorgado pela Câmara de Vereadores de Cruz das Almas.

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