Quem viveu a infância nas décadas de 1950 e 1960 sabe que não eram simplesmente doces; cada guloseima tinha um sabor próprio, uma história e um lugar certo. Eram pedaços de alegria que agora moram na nossa memória afetiva, quase como um acervo saboroso que guardamos no coração e no paladar. Um passeio pelas ruas e praças da cidade era uma festa para os sentidos, um verdadeiro deleite infantil.
A começar pelo picolé. Quem poderia esquecer o vendedor que passava na Rua da Mata nas tardes de domingo? O sabor mais esperado era o de coco, com sua textura cremosa e doce na medida certa. Para quem não conseguia comprá-lo na rua, ainda havia o Bar de Rodrigo e Ranulfo, na Praça dos Artistas, o Bar de Renério e o Bar de Nelson, ali na esquina, vizinha da prefeitura. E o Sr. Vadengue, pai de Edson Chiacchio, também fazia a alegria da criançada com seus picolés cremosos e coloridos.
E a cocada? As cocadas de Dona Isautina e Dona Anastácia eram uma tentação difícil de resistir, vendidas nos seus tabuleiros de madeira, cada pedaço uma joia de açúcar e coco. Ali, em frente à loja do Antão, Seu Alexandre, pai de Jorge da sinuca, também vendia as suas, com um toque único que só ele sabia dar. Já o famoso quebra-queixo, bem, esse era disputado nas mãos de Lió, que o vendia para os alunos do CEAT. Um doce pegajoso e macio, com pedacinhos de coco crocante, cortado em pedaços e envolto em papéis de cor.
Nos dias de feira, era a vez do rosário de licuri. Um colar de coquinhos, perfumados e saborosos, unidos como uma corrente de contas naturais que desmanchavam aos poucos, mordidos de grão em grão. Bem verdade que, de vez em quando, surgia um coquinho “premiado”. Eca! Rsrsrs!
A abafabanca de Dona Lidinha era um caso à parte. Docinha, geladinha, mas que desmanchava na boca. Era irresistível!
A esposa de seu Cutuvila fazia os alfélis, que derretiam na boca, e os pirulitos da mãe de Geraldo e Dinho Coco, arrumados com capricho em tábuas perfuradas, eram os favoritos. Mas aqueles pirulitos eram duros que só! O dinheiro às vezes era curto, então era costume dividir com os amigos, quebrando o doce nos dentes e repartindo como se fosse um tesouro.
As balas de leite de Dona Astronilda Pinheiro, então, merecem um capítulo especial. Ela fazia uma farra, convidando as crianças da Rua dos Poções para ajudar a embalar as balas. O pagamento? Uma mão cheia delas, macias, docinhas, e todas as risadas que cabiam no coração. Era uma festa onde cada criança carregava sua recompensa no bolso, como se fosse ouro.
E como não mencionar a rapadura? Desde as rústicas, vendidas na feira local, até as vindas de Bom Jesus da Lapa, cada pedaço era um presente da terra. Doce e robusta, a rapadura fazia parte do nosso dia a dia, do lanche à energia para as brincadeiras na rua.
Ah, doces lembranças! Esses quitutes, que hoje são apenas lembranças açucaradas, eram o ponto alto da nossa infância, carregados de sabor, de história, e do carinho das mãos que os preparavam. Guardamos tudo isso com a certeza de que, mesmo que os tempos tenham mudado, as memórias nunca perdem o doce gosto do passado.