O MARINHEIRO CRUZALMENSE
Na então pacata Cruz das Almas de 1922, nasceu em 2 de setembro um menino de cabelos loiros e olhos vivos que recebeu na pia batismal o nome de Estevam Barbosa Alves. Filho de João Xavier Alves e Hercília Barbosa, Estevam foi um jovem que desde cedo demonstrou grande disposição e um desejo insaciável de estudar e conhecer o mundo. Segundo o memorialista Prof. Manoelito Roque Sá, Estevam era um rapaz de pequena estatura, porém forte e simpático. Seu talento musical era evidente, e ele adorava cantar as canções de Vicente Celestino, imitando o cantor com uma perfeição que encantava a todos.
A vida em Cruz das Almas, embora serena, não oferecia a Estevam as oportunidades que ele ansiava. Inspirado pelo irmão Antônio, que havia ingressado na Marinha do Brasil um ano antes, Estevam decidiu seguir o mesmo caminho. Com apenas 18 anos, alistou-se na Escola de Aprendizes de Marinheiro em Salvador no dia 1º de fevereiro de 1941. Em 7 de janeiro de 1942, seguiu para o Rio de Janeiro, onde assentou praça no Corpo do Pessoal Subalterno da Armada como Grumete.
A bordo do Navio Auxiliar Vital de Oliveira, Estevam se destacou por sua dedicação e competência. Cursou a especialidade de Máquinas Auxiliares, concluindo com mérito em 1º de setembro de 1943. Sua carreira na Marinha progredia bem, sendo promovido a Marinheiro de 2ª classe e, posteriormente, a Marinheiro de 1ª classe.
No entanto, o destino reservava um desafio imenso para Estevam. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil viu-se arrastado para o conflito devido aos ataques de submarinos alemães em suas águas. Em 19 de julho de 1944, o Vital de Oliveira foi torpedeado pelo submarino alemão U-861, comandado pelo Capitão de Corveta Jürgen Oesten, a 25 milhas ao largo do Cabo de São Tomé. Em meio ao caos e à destruição, Estevam e muitos de seus colegas perderam a vida. A bordo, o comandante e a tripulação demonstraram uma calma e disciplina admiráveis, mas o impacto do torpedo foi devastador, levando o navio a afundar em apenas três minutos.
A notícia da tragédia abalou profundamente a comunidade de Cruz das Almas. Estevam Barbosa Alves foi um dos 100 homens que pereceram naquele dia fatídico, um jovem cheio de sonhos e promessas que se foi muito cedo. Em reconhecimento ao seu sacrifício, Estevam foi promovido postumamente ao posto de 1º Sargento. Seu nome foi imortalizado em um busto de bronze, inaugurado pelo seu irmão, o então prefeito Carmelito Barbosa Alves, em uma praça que leva o seu nome. Essa homenagem, realizada em 29 de julho de 1995, durante as comemorações do aniversário de emancipação política do município, é um tributo eterno ao jovem marinheiro que deu sua vida pela pátria.
Em Salvador, uma rua no bairro Castelo Branco também leva o nome de Estevam Barbosa Alves, perpetuando sua memória além das fronteiras de sua cidade natal. Embora não tenha integrado a Força Expedicionária Brasileira (FEB) que lutou na Itália, Estevam é considerado um herói de guerra. Seu sacrifício e o de muitos outros marinheiros brasileiros foram catalisadores para a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, um momento crucial na história do país.
Estevam Barbosa Alves, com sua coragem e dedicação, tornou-se um símbolo de bravura e patriotismo, uma lembrança constante de que os verdadeiros heróis não são apenas aqueles que empunham armas no campo de batalha, mas também os que, com determinação e sacrifício, defendem sua nação em todos os mares e frentes possíveis. Sua história continua a inspirar gerações e deve lembrar-nos da importância de honrar aqueles que deram tudo por um ideal maior.