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O VER DE TREM EM CRUZ DAS ALMAS

Neste sábado (20/07), o programa radiofônico Rap é o Som, um projeto da UFRB transmitido pela Rádio Santa Cruz Fm e apresentado pelo talentoso artista Errivance, na sua edição de nª 182 entrevistou o ambientalista Augusto César (também conhecido como César Ecológico) do Grupo Ecológico Copioba. Lembrei-me então da história de um trem ecológico que passou por Cruz das Almas quando a estação ferroviária já não mais funcionava por aqui…

Naquele dia ensolarado de maio de 1992, Cruz das Almas parecia vibrar com uma energia diferente. O burburinho de crianças, jovens  e adultos comentando com entusiasmo a chegada do trem ecológico, trazia um ar de expectativa e renovação. Era um dia festivo para a cidade, pois o trem fruto do Projeto Ver de Trem e do Movimento Trem de Ferro, em parceria com o Grupo Ecológico Germen, estava prestes a passar pela Estação de Pombal (também denominada  Eng. Eurico Macedo), àquela época já desativada para viagens de passageiros, mas viva na memória afetiva dos cruzalmenses. O Ver de Trem vinha em sua jornada de Salvador ao Rio de Janeiro, rumo à ECO-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.

A cidade, já acostumada ao ritmo diário dos carros e muitas bicicletas, viu-se, por um momento, transportada ao passado, quando o apito do trem ecoava nas manhãs e tardes, ligando destinos e histórias. Mas aquele trem não era apenas uma viagem nostálgica. Representava um esforço coletivo para revitalizar as ferrovias brasileiras, uma campanha lançada em outubro de 1991, que visava mostrar que o trem poderia ser, novamente, um meio de transporte viável, econômico, ecológico e seguro.

Contava o memorialista Alyrio Mendes, também um dos fundadores do Copioba, que “o grupo abriu uma picada para dar acesso à população para recepcionar o Ver de Trem, levou banda de música e  foi um evento importante para Cruz das Almas pois a participação do Copioba na ECO 92 marcou o nosso município ensejando-lhe uma vaga no Conselho Estadual do Meio Ambiente”.

À medida que o trem se aproximava, a plataforma da estação enchia-se de vida. Famílias inteiras, jovens curiosos, ambientalistas e membros do Grupo Ecológico Copioba aguardavam ansiosamente. O trem, carregando 95 pessoas entre ambientalistas, ferroviários, especialistas, imprensa e artistas, era um símbolo de esperança e mudança. Ao chegar em Cruz das Almas, parou para colher informações, manifestações e para carregar consigo um pouco da alma da cidade.

Os cruzalmenses assistiram com olhos brilhantes enquanto os vagões paravam e os passageiros acenavam sorridentes. Entre eles, alguns membros do Grupo Ecológico Copioba embarcaram para seguir até o Rio de Janeiro, levando consigo mensagens de conscientização e a força de uma cidade unida por uma causa maior. O trem, com suas cores e mensagens ecológicas, era um farol de esperança em uma era onde a malha ferroviária brasileira estava, em grande parte, relegada ao transporte de cargas.

A viagem do Ver de Trem não era apenas uma travessia física, mas também uma jornada simbólica, que ligava o passado glorioso das ferrovias ao futuro sustentável desejado por todos. A chegada ao Rio de Janeiro, após dias de viagem, foi um marco não só para os passageiros, mas para todos que acompanharam a jornada. Apesar das adversidades e da falta de cobertura midiática ampla, especialmente para as questões ambientais do Norte e Nordeste do Brasil, a chegada desse trem ao Rio de Janeiro foi uma declaração poderosa da capacidade de mobilização e da importância das questões ambientais.

Cruz das Almas, naquele dia de maio, fez parte de uma história maior. O apito do trem que ecoou não foi apenas um som, mas uma chamada à ação, uma lembrança de que todos podemos contribuir para um mundo melhor. E assim, com o apito se afastando na distância, os cruzalmenses voltaram às suas rotinas, mas com uma nova chama de esperança e determinação, inspirados pela passagem do trem ecológico, o Ver de Trem!

Edisandro Barbosa Bingre

Edisandro Barbosa Bingre é professor, escritor, cerimonialista e pesquisador memorialista de Cruz das Almas. Ele é membro da Academia Cruzalmense de Letras e destaca-se por seu trabalho com o "Almanaque Cruzalmense", onde documenta e preserva a história e a memória cultural da cidade. Bingre é reconhecido por suas contribuições literárias e históricas, trazendo à tona fatos importantes e curiosidades sobre a região, além de ser uma figura ativa na comunidade intelectual de Cruz das Almas​. No ano de 2020 recebeu o Título de Cidadão Cruzalmense outorgado pela Câmara de Vereadores de Cruz das Almas.

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