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O CASAMENTO DO SELEÃO: UMA FESTA TRADICIONAL QUE CRESCE A CADA ANO

Em Cruz das Almas, onde as tradições juninas são celebradas com fervor e alegria, uma festa em particular se destaca por sua originalidade e crescimento ao longo dos anos: o Casamento do Seleão. Tudo começou em 1995, como uma simples brincadeira de um grupo de moradores dos bairros da Coplan, Edla Costa, Itapicuru e Andaraí. Os pioneiros organizadores, Paulinho, Sidy e Nai, queriam trazer um pouco mais de alegria e união para a comunidade, e assim nasceu essa festa inusitada e descontraída.

A ideia era simples: um “casamento junino” festivo saía pelas ruas, recolhendo comidas e bebidas típicas da época, como licor, amendoim, milho e bolos. No cortejo, uma carroça trazia um rapaz vestido de noiva e uma mulher vestida de noivo, em performances hilárias que arrancavam risadas de todos. Esses alimentos compunham uma farta mesa na Praça do Seleão, onde a comunidade se reunia para celebrar. Havia uma tradição peculiar e corajosa: os mais audaciosos, muitas vezes embriagados, tinham que enfrentar as espadas de fogo para pegar as guloseimas. Essa parte da festa era ao mesmo tempo temida e adorada, adicionando uma pitada de adrenalina ao evento.

O que começou como uma brincadeira informal rapidamente cresceu em popularidade. A festa, inicialmente restrita aos moradores próximos, foi se espalhando pela cidade, atraindo gente de todos os cantos. A cada ano, o cortejo se tornava mais grandioso, e a mesa na Praça do Seleão mais farta. O entusiasmo dos organizadores e a participação calorosa da comunidade transformaram o Casamento do Seleão em uma verdadeira tradição.

Reconhecendo a importância cultural e social do evento, a Prefeitura Municipal de Cruz das Almas passou a apoiar oficialmente a realização da festa. Com o tempo, o Casamento do Seleão deixou de ser apenas uma reunião comunitária e se transformou em um grande evento com artistas famosos, bandas musicais e diversas atrações juninas. A festa, que encerra o período junino no município e no Recôncavo Baiano, agora atrai milhares de visitantes, todos ansiosos para participar da celebração.

Em 2021, o Casamento do Seleão foi oficialmente reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial de Cruz das Almas pela Lei Municipal nº 2775 de 23 de setembro. Essa conquista coroou anos de dedicação e esforço dos organizadores e da comunidade, que juntos transformaram uma simples brincadeira em um evento grandioso e significativo.

Hoje, a Praça dos 2 Leões, que passou a chamar-se Praça do Seleão, e todo seu entorno na Coplan e adjacências, se enche de música, dança e alegria. As atrações de forró, com artistas locais e regionais, as comidas e bebidas típicas continuam a ser uma parte essencial da celebração e mantêm viva a emoção e a beleza dos primeiros anos.

O Casamento do Seleão é mais do que uma festa; é um símbolo de união e celebração comunitária. Ele representa a capacidade dos moradores da Coplan e do Itapicuru (e, por extensão, de Cruz das Almas) de se unirem em torno de suas tradições, transformando algo simples em algo extraordinário. É, sem dúvida, uma prova de que as tradições mais queridas são aquelas que nascem do coração da comunidade e crescem com o tempo, tornando-se parte essencial da identidade e da alegria de um povo.

Edisandro Barbosa Bingre

Edisandro Barbosa Bingre é professor, escritor, cerimonialista e pesquisador memorialista de Cruz das Almas. Ele é membro da Academia Cruzalmense de Letras e destaca-se por seu trabalho com o "Almanaque Cruzalmense", onde documenta e preserva a história e a memória cultural da cidade. Bingre é reconhecido por suas contribuições literárias e históricas, trazendo à tona fatos importantes e curiosidades sobre a região, além de ser uma figura ativa na comunidade intelectual de Cruz das Almas​. No ano de 2020 recebeu o Título de Cidadão Cruzalmense outorgado pela Câmara de Vereadores de Cruz das Almas.

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