A ESCRAVIDÃO INDÍGENA
Sim, precisamos falar sobre a História da Escravidão Indígena.
O período de 1540 até 1570 marcou o apogeu da escravidão indígena nos engenhos brasileiros, especialmente naqueles localizados em Pernambuco e na Bahia. Nessas capitanias os colonos conseguiam escravos indígenas roubando-os de tribos que os tinham aprisionado em suas guerras e, também, atacando as próprias tribos aliadas. Essas incursões às tribos, conhecidas como “saltos”, foram consideradas ilegais, tanto pelos jesuítas como pela Coroa. Mas o interesse econômico falou mais alto e, dessa forma, fazia-se vista grossa às investidas.
O regime de trabalho nos canaviais era árduo. Os jesuítas pressionaram a Coroa e conseguiram que os senhores dessem folga aos índios aos domingos, com o objetivo de que assistissem à missa. Mas, esgotados pelo ritmo de trabalho, eles preferiam descansar ou ir caçar e pescar, como forma de suplementar sua alimentação. Muitos senhores não atenderam a essa determinação régia e os indígenas continuaram trabalhando aos domingos e dias santos. Tentando resolver essa situação, os jesuítas intensificaram as ações contra a escravidão, promovendo intenso programa de catequização nos pequenos povoados e aldeias da região.
De modo a inserir o indígena no processo de colonização os portugueses recorreram a três métodos. O primeiro consistia na escravização pura e simples, na base da força, empregada normalmente pelos colonos. O outro criava um campesinato indígena por meio da aculturação e destribalização, praticadas primeiramente pelos jesuítas, e depois pelas demais ordens religiosas. O terceiro buscava a integração gradual do índio como trabalhador assalariado, medida adotada tanto por leigos como pelos religiosos. Durante todo o século XVI e início do XVII os portugueses aplicaram simultaneamente esses métodos. Naquele momento consideravam a mão-de-obra indígena indispensável aos negócios açucareiros.
Durante muito tempo foi lugar comum nos livros didáticos, e até mesmo na historiografia brasileira, dizer-se que o índio não foi escravizado, por não se adaptar à organização do trabalho imposta pelos colonizadores. Quando muito admitia-se que a incorporação do indígena ao trabalho escravo ocorreu apenas no início da colonização, sendo posteriormente substituído pelos povos africanos.
Na relação entre portugueses e indígenas, pulava-se do escambo para a conversão dos aldeamentos, com rápidas pinceladas de exotismo, tendo como referência para “abençoar este congraçamento entre os povos” a bula papal que reconhecia a humanidade dos bárbaros.
Em Cruz das Almas não deve ter fugido à regra e, reza a tradição oral, que lá em meados do século XVI e início do XVII, a antiga capela da Embira teria sido construída com a mão-de-obra formada por indígenas catequizados pelos jesuítas que estavam aqui na região. Outra história contada é a probabilidade dos Cariris e Sabujás que teriam sido expulsos daqui e foram “encurralados” até um aldeamento (que não é a mesma coisa que aldeia, importante entender a diferença!) em Pedra Branca, atual Santa Teresinha. Enfim…
“Isso é coisa do passado”, dirão!
Será?