NATAL EM CRUZ DAS ALMAS
Como era a véspera de Natal na Cruz das Almas dos meados das décadas de 40 e 50?
Bem, segundo o escritor cruzalmense Renato Passos da Silva Pinto Filho, em suas memórias de menino no livro Cruz das Almas dos Meus Bons Tempos, conta-nos que:
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Enquanto se espera a missa do galo, à meia-noite da véspera do Natal, são brincadeiras muitas que fazemos aqui na porta da casa, e damos muitos passeios nos jardins que cercam a igreja matriz do reverendo padre Deraldo, que é a pessoa mais importante desta festa da igreja.
Os jardins da praça ficam iluminados de lâmpadas coloridas, em gambiarras presas de poste a poste, de oiti a oiti, e contornando os beirais dos coretos, onde a Lira e a Euterpe exibem a mais fina flor dos seus repertórios e suas últimas músicas ensaiadas. Um para e a outra começa, a outra começa e uma para; é uma beleza de noite; parece coisa pensada em sonho de menino feliz.
Uma porção de barracas enfeitadas e iluminadas para as quermesses, leilões, tiro ao alvo e brincadeiras; quantas prendas de doces, comidas e bichos para o leilão em benefício da igreja.
Passeios de namorados de mãos dadas às escondidas, dadas as liberdades que uma noite destas permite. Até menino, gato e cachorro ficam acordados até tarde que é quase de madrugada; beijos dados às pressas, que permitidos, foram roubados, com muita ingenuidade e muitas promessas de amor eterno. Quando é que a gente, que é criança, vai saber o que é amor e poder beijar? Os que já estão começando a ficar quase grandes e já começaram a namorar, botam uma banca danada e dizem para nós que tudo tem o seu tempo certo; menino não deve pensar nessas coisas; deve crescer e aparecer. Em todos os portões, namoram com permissão dada todos os namorados.
(…)”