CRUZ DAS ALMASCULTURAMEMÓRIA

OS INESQUECÍVEIS FESTIVAIS DA CANÇÃO EM CRUZ DAS ALMAS

Na vibrante Cruz das Almas das décadas de 1960 e 1970, a cultura musical encontrou seu palco em dois grandes Festivais de Música que se tornaram marcos históricos na cidade. Esses eventos não só revelaram talentos locais, mas também conectaram a cidade ao fervor da música popular brasileira que pulsava pelo país naquela época.

Tudo começou com a iniciativa do jornal estudantil “O Brasa”, que circulou entre 1967 e 1968, sob a direção de Antônio Carlos Ramos (Toinho Gafanhoto) e uma equipe de redatores composta por Higino Brito, Ana, Lúcia e Jamile. Na sua oitava edição, “O Brasa” decidiu promover o I Festival da Canção Popular de Cruz das Almas, um evento que ecoaria pela cidade e além.

O festival, que rapidamente se tornou um dos mais aguardados, oferecia um prêmio ambicioso: o vencedor teria a oportunidade de ser encaminhado para um popular programa de televisão da época, “A Grande Chance”, que lançou artistas como Armandinho Macedo. O evento reuniu uma gama de participantes, desde cantores solos até grupos locais, como a banda Os Rebeldes, que já começava a conquistar admiradores com seu som inovador. A comunidade local se envolveu profundamente, com uma seleção de jurados respeitados e uma organização que transformou o festival em um espetáculo inesquecível.

A primeira edição foi um sucesso tão grande que motivou a realização de uma segunda edição, que trouxe um prêmio ainda mais cobiçado: a gravação de um disco em vinil, um LP com as músicas selecionadas no festival. Essa edição foi palco de momentos icônicos, como a participação de Marcelo Machado, que causou alvoroço com sua polêmica canção “Como é Bacana Amar a Senhora M”, cujo refrão provocador ficou marcado na memória de muitos.

Outros talentos locais também se destacaram. Vaúca, com sua emocionante canção que homenageava sua amada e a Rua da Estação, encantou a plateia ao cantar “Rua da Estação, poste sem energia, cadê minha Laurinha…”. A diversidade de temas abordados nas músicas refletia o espírito da época, desde o romance até críticas sociais. Um estudante de agronomia apresentou uma música política com o refrão “O Galo já cantou, cantou corococó…”, enquanto outra canção que falava da angústia do desemprego, com o refrão “Cruz das Almas ê, eu já cansei de tanto lhe pedir pra me ajudar. Cruz das Almas ê, eu te amo, te adoro querida eu sempre te amei”, emocionou o público e venceu o concurso.

O conjunto Os Rebeldes (formado por Guto Mathias, Antonio Roberto Pereira (Beto Rebelde), Gilson Fraga, Sergio Diniz, José Carlos Borges Silveira e Marcelo Machado como compositor) também brilhou na segunda edição com a música “Anti Gravitacional”, consolidando seu lugar na história musical de Cruz das Almas. Marcante a apresentação do talentoso cantor José Magalhães, que interpretou uma canção de sua autoria, intitulada “Cansei de Pedir” e ganhou o festival. Ressalte-se também a participação de Moisés Rodrigues, considerado o melhor intérprete com a música “Alusão”, composição de Josilton Josadack. Uma curiosidade: A música de Waltércio Barroso Fonseca, o Fonsequinha, ficou em quinto lugar; mas, como Os Rebeldes se recusaram a gravar no compacto simples, pois se acharam injustiçados com o segundo lugar dado a “Como é Bacana Amar a Sra. M”, a musica “Coração Ingrato” passou a fazer parte do disco, sendo interpretada pela banda Os Líderes.

Esses festivais não só promoveram a cultura local, mas também deixaram um legado duradouro na memória coletiva de Cruz das Almas, celebrando a criatividade, a expressão artística e a paixão pela música que define a cidade até hoje.

CONHEÇA COMO ERAM AS LETRAS DAS CANÇÕES CITADAS:

COMO É BACANA AMAR A SENHORA M (Marcelo Machado)

Como é bacana amar a senhora M

E sentir a natureza

Fotografada em cores

Com sua doçura bacanamente divina

Como é bacana amar a senhora M

E sentir que além dos poços de sangue

Além das dunas de ossos

A retina ainda encontra

Solto na cortina

Da escuridão

O ponto amarelo do sol

Aquecendo girassóis – radares

Molhados de neblina

Como é bacana amar a senhora M (bis)

E pousar em sua moto

Em câmara lenta

E achar o por-do-sol

E saber que ainda, atrás

Sem muralhas de cristais

A linda luz da lua linda

Beija com jatos de luz

Os seis nús

De uma deusa índia.

ANTI GRAVITACIONAL (Os Rebeldes)

Penso só te ver e sorver-te

Como algum sorvete

Lunar (Bis)

Beijos vezes beijos

E me vejo a flutuar

Entre nuvens brancas e

Palavras cor do mar

Beijos vezes beijos

Quero mesmo é voar

E senti meu corpo no teu corpo cintilar

Penso só te ver e sorver-te

Como algum sorvete

Lunar (Bis)

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