PROF. MATIAS DE JESUS
“O autor e seus tempos
Antigamente, costumava-se dar nome ao filho olhando o nome do santo do dia na folhinha. Fevereiro. 24. Carnaval. Nasci no dia de São Matias – nunca encontrei uma imagem deste santo e adoro imagem de santos.
A gente não entrava na escola logo não. A escola já nos recebia com os dentes crescidos, muitos banhos de rio, muitas frutas alheias “colhidas às escondidas” e muitas surras.
Aí, sim, começava a vida com a farda, horário, orações, hinos, lápis, caderno, borracha… A felicidade tava na escola, principalmente, na hora santa do recreio.
Tinha-se pressa… Deixar de lado o “velho” lápis… Ganhar a primeira caneta-tinteiro… Passar de ano em primeiro lugar… Naqueles bons tempos, a gente fazia amizades para o resto da vida.
Fazia-se a Primeira Comunhão com o Padre Deraldo, vestia-se terno feito sob medida – vesti um de gabardine azul-marinho feito por Coringa. E da igreja ia-se em filas (de meninos e de meninas) para um café inesquecível no Cruz das Almas Clube.
Bons tempos aqueles! A gente fazia a “temida” Admissão ao Ginásio e descobria um fantástico mundo novo chamado Colégio Estadual Alberto Tôrres. A mudança era da água pro vinho. Muita coisa sai da lembrança, mas a professora primária fica. A minha, Magda de Oliveira Alves, não esqueço nunca.
Do Alberto Tôrres a gente só saía quando terminava o Científico – régua, compasso e início de estrada pra muita gente boa. Naquele tempo – década de setenta – Alício Simões profetizou que eu seria professor. O vestibular não era mais fácil que hoje, mas era bem diferente. Não havia cursinhos. Éramos os donos dos nossos destinos. A UFBA era a meta de todos por todos os bons motivos. Desembarquei na Faculdade de Letras – uma boa e longa festa! E tornei-me professor.
Nos tempos atuais, já na segunda metade de uma centena de anos, insistindo em viver, ainda sou professor e, em nenhum tempo, parei pra me julgar – isto o tempo sempre acha quem faça.
Agora, de uns tempos pra cá, dei pra inventar histórias sobre pessoas que nunca vi e, às vezes, falando até mal delas. Inventar histórias é bom, tomara que já não seja coisa da idade.
Enfim, tô por aqui; sabem Deus e o tempo até quando.”
Matias de Jesus, autor do livro Um cão sem dono (2009).