CRUZ DAS ALMASPERSONALIDADES

A LOUCA ROMANA

Nem só dos grandes devemos relatar os feitos. Os pequenos, os humildes e, principalmente, os loucos também merecem ser lembrados na história de um povo.

Assim é que vou contar passagens da vida de um dos tipos mais populares de sua época: chamava-se Romana.
Quem aqui viveu, lá pelos idos de 40 e 50, certamente dela irá lembrar-se.

Romana era a louca da cidade, porque toda cidade possui a sua doida. O resto do nome ninguém lhe sabia, pois era uma infeliz e os infelizes perdem sempre o resto do nome.
Foi casada, contam. Conheceu o lado azul da vida nos idílios de namorada, nos sonhos de noivado e na lua-de-mel de um casamento.

Tivera o primeiro filho. E aí começou a sua desdita com os maus tratos do seu marido. Mesmo no leito de parturiente, o infame a espancava.

Um dia, as lágrimas foram a tantas que encheram e extravasaram o cálice de sua desventura. A dor moral suplantara-lhe a resistência física e os espasmos do sofrimento, e num minuto, arrebentaram em gargalhadas nervosas.

Enlouquecera!

Abandonada do raciocínio e do marido, passou Romana a perambular pelas ruas, como todas as loucas de cidade.

Tinha o hábito de saltar na frente dos carros em movimento, por brincadeira ou por pirraça aos motoristas. Os que a conheciam, precatavam-se.

Um estranho, porém, não teve jeito de evitar o mal tantas vezes por ela provocado inconscientemente.

E assim, Romana a doida, a conhecida Romana de nossas ruas, descansou para sempre, toda arrebentada por um carro que passava pela BA 2 ( antiga entrada da cidade, ali onde atualmente é a Rua da Tabela).

(Adaptação literária / Jornal Nossa Terra. 1954)

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo