CRUZ DAS ALMAS: SUA CRIAÇÃO, A ORIGEM DE SEU NOME E SUAS VÁRIAS HISTÓRIAS.
Num recanto do planalto da Bahia, encontra-se o Município de Cruz das Almas. Este nome, que ecoa histórias e memórias de tempos passados, tem suas raízes fincadas no solo fértil da tradição e da fé. Seu surgimento, de fato, é incerto, mas pode-se marcar como primeiro registro oficial o longínquo 22 de janeiro de 1815, quando o Príncipe Regente Dom João assinou um Alvará Régio. Este documento elevava o arraial de Cruz das Almas, que até então pertencia ao Outeiro Redondo em Cachoeira, à condição de Freguesia. Sob o nome de Nossa Senhora do Bom Sucesso da Cruz das Almas, o arraial ganhava uma nova identidade, mas mantinha sua essência. A igreja matriz, ainda distante, era Nossa Senhora do Desterro do Outeiro Redondo, mas isso mudaria com o tempo.
Em 1877, finalmente, foi construída a Igreja Matriz em Cruz das Almas, um marco de fé e união para a comunidade que crescia ao redor daquele solo sagrado. Até então, as escrituras e registros do nascente distrito continuavam nos livros de Outeiro Redondo. Somente em 1857, Cruz das Almas ganhou seu primeiro livro separado, marcando a independência de sua história.
A freguesia, que mais tarde se tornaria vila, alcançou sua emancipação política em 29 de julho de 1897. Graças à Lei Estadual 190 de 1897, Cruz das Almas desvinculou-se de São Félix e começou a escrever sua própria história, agora como um município independente, com seus próprios intendentes e conselheiros.
Mas e o nome, Cruz das Almas? De onde vem? Há duas versões, ambas encantadoras e carregadas de significado. A primeira, narrada por Mário Pinto da Cunha em sua obra “História de Cruz das Almas” de 1959, fala de um cruzeiro na antiga estrada das tropas. Ali, tropeiros a caminho de São Félix e Cachoeira faziam uma pausa para descansar e, principalmente, para rezar pelas almas, pedindo proteção para suas viagens. Em torno deste cruzeiro, as primeiras casas foram erguidas, formando o núcleo inicial da povoação.
A segunda versão, menos conhecida, mas igualmente fascinante, sugere que alguns dos fundadores da vila, de origem europeia, teriam batizado o novo povoado em homenagem à sua terra natal, Cruz das Almas em Portugal. Um gesto de saudade e reverência ao velho continente.
No entanto, antes dos colonizadores europeus ou tropeiros vindos do Alto Sertão, esta terra já tinha seus habitantes. Os povos indígenas Cariri e Sabujá foram os primeiros donos destas terras. Suas histórias, muitas vezes esquecidas ou apagadas, são parte fundamental da narrativa de Cruz das Almas. O que aconteceu com eles? Foram expulsos, dizimados? Suas vozes ecoam nas entrelinhas da história, convidando-nos a pesquisar, a lembrar e a honrar suas memórias. De igual forma, importa também saber sobre os negros trazidos de África e seus descendentes que aqui foram escravizados e foram usados como mão-de-obra nos grandes engenhos e fazendas da região.
E assim, passados mais de dois séculos, Cruz das Almas continua a viver, pulsando com a energia de sua história rica e multifacetada. Cada esquina, cada casa, cada árvore guarda um pedaço dessa trajetória, construída com suor, fé e resiliência. E como todo o Recôncavo Baiano, é um lugar onde o passado e o presente se encontram em uma dança eterna, celebrando a vida em toda a sua complexidade e beleza.