Contaram-me certa vez que, há muito tempo, quando ainda plantava-se cana-de-açúcar nas terras de Cruz das Almas, havia lá uma grande fazenda onde morava uma jovem senhora casada com um senhor de engenho.
Certa vez, depois de perder o apreço do seu marido, pois o mesmo havia se engraçado com uma das suas jovens escravizadas, sentiu-se tão mal a ponto de decidir dar cabo à própria vida, envenenando-se. Lembrou-se então de um líquido resultante de uns jenipapos passados de maduros que ficavam jogados num velho barril com resto de aguardente lá no celeiro. Botou um tanto daquele líquido numa pequena taça de cristal, misturou com melaço (para melhorar o sabor) e bebeu-o. Mas, depois de ingerir a tal beberagem, em vez de morrer ela notou que seu humor tinha era melhorado. Tanto e, tão imediato, que a mulher sentiu foi uma imensa alegria de viver.
Com o passar dos dias, a senhora tomou novamente gosto pelas festas e até reconquistou a atenção do marido na intimidade do casal, fazendo-o esquecer totalmente da amante. A senhora, então, passou a fazer uso diário do tal licor; e, creditando a descoberta à uma inspiração divina, em agradecimento ela doou dez litros daquela bebida, coisa fina em bonitas garrafas de cristal, para o leilão da quermesse de São João, o que foi um grande sucesso no arraiá. Depois disso, nunca mais faltou alegria e nem licor de jenipapo nas festas daquele lugar.
E dizem que, assim, foi inventado este delicioso e poderoso elixir da felicidade.
Verdadeira ou não, a estória é boa!
(Texto revisto e corrigido, originalmente publicado na Revista Reflexos de Universos em abril de 2021)
