CRUZ DAS ALMASCULTURAPERSONALIDADES

NELSON MAGALHÃES FILHO

O cruzalmense Nelson Magalhães Filho é artista visual premiado em salões e bienais, pintor, fotógrafo e produtor de filmes; também é poeta, músico e atua no teatro como ator e diretor.

Nasceu em 30 de julho de 1958. Seu avô paterno Turíbio Magalhães escrevia poemas, peças de teatro e atuava nos palcos da cidade de São Félix; sua mãe, Teresinha Santana Magalhães, costureira, e seu pai, Nelson Magalhães, era funcionário público, cronista e poeta.

Nelson Magalhães Filho é um artista que transita pelas várias linguagens, usando a emoção e a experimentação a favor de sua expressão, sendo seu imaginário local de inúmeras referências artísticas, sobretudo, do cinema, das artes plásticas e da literatura. Seu trabalho resulta de escolhas e hibridações, à serviço de experiências existenciais que fazem emergir na arte a estranheza, a obscuridão, a aspereza, sem tréguas.

Foi na sua adolescência que a arte passou a ocupar um lugar maior.

“A arte sempre esteve em minha vida desde a adolescência. A arte para mim sempre foi uma necessidade essencial. Com uma infância povoada por histórias de fantasmas, acredito que a vida se mistura à ficção, e a imaginação surge a partir do desejo, do anseio de relembrar.” (MAGALHÃES FILHO. Entrevista, 30 jun. 2020)

A sua escolha pela arte foi bem compreendida por sua família. Segundo o artista, seus pais o apoiaram quando resolveu estudar Artes Plásticas e ingressou na Graduação na Escola de Belas Artes na Universidade Federal da Bahia – UFBA, em 1980.
Nessa época, as suas pinturas se destacavam pela força expressiva nas aulas, feiras de arte e exposições.

Retornou à EBA em 2002, para cursar a disciplina do Mestrado em Artes Visuais, Pintura Contemporânea, com a artista e professora Graça Ramos, a quem tem muito apreço. Aí também trabalhou por dois períodos como Professor-Substituto das disciplinas Pintura II, entre 2004 e 2006, e Pintura I e Pintura II, entre 2008 e 2010.

A primeira exposição da qual participou aconteceu na Filarmônica Lira Guarany, Cruz das Almas, BA, em 1974. Foi premiado em várias Bienais do Recôncavo (Centro Cultural Dannemann, São Félix, BA) e nos Salões Regionais de Artes Plásticas da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB) e, em 1999, ganhou o Prêmio BRASKEM de Cultura e Arte. Participou de várias exposições individuais e coletivas em diversos Estados do Brasil, na Espanha (Segóvia, Barcelona, Málaga, Valladolid) e em Nova York (EUA).

Para Nelson, “a arte será sempre um gesto inacabado, um processo em movimento inflexível, das redes rizomáticas de criação”.

Expressa-se através de diversas linguagens que influem sobre as suas escolhas e hibridações, à serviço de experiências existenciais que fazem emergir na arte a estranheza, a obscuridão, a aspereza, sem tréguas.

Seu discurso pictórico é assim explicado por ele: “Não acredito na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. […] Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo.” (ANJO BALDIO)

Como artista plástico, seu trabalho se caracteriza pela experimentação, entregando-se à gestualidade na pintura; expressa a inquietação do ser diante da vida agreste vivida com dores e sem subterfúgios. A sua trajetória nas artes plásticas rendeu-lhe inúmeros trabalhos, prêmios e exposições, assim como apreciações de artistas, críticos e historiadores da arte, a exemplo de Graça Ramos, Matilde Matos, Justino Marinho, César Romero, Aldo Tripodi, Eduardo Evangelista, Reynivaldo Brito, Juarez Paraíso, Alejandra Hernández Muñoz, e do escritor Wesley Barbosa Correia.

Ao vencer o Prêmio Copene de Cultura, Matilde Matos o considerou “um artista ferozmente independente no seu modo peculiar de pintar sempre as mesmas figuras, conseguindo […] romper com tradições artísticas e se aproximar da vida.” (MATOS Apud CORREIA, 2007). Wesley Correia (2007) chama atenção para a “intensa fragmentação do ser, da sociedade moderna e de tudo quanto o caos urbano pode suscitar” na pintura de Nelson Magalhães Filho, a qual caminha por um processo de desconstrução e renovação a cada série que realiza.

Nelson pode ser compreendido como um dos artistas brasileiros que rompem o espaço com pinceladas fortes, expressivas e despojadas nas quais a gestualidade se afirma. A sua pintura não esconde as suas inquietações profundas. Correia (2007), ao abordar a pintura dele, as associa às obras do pintor norueguês expressionista Edvard Münch, e dos norte-americanos Jean-Michel Basquiat e Jackson Pollock, pela força da gestualidade. De fato, na pintura, o artista tende ao expressionismo e ao informalismo.

A trajetória pictórica do artista prima pela coerência. Sua série Anjos Baldios, de 2010, demostra uma estima especial por refletir sobre o caos, a violência e a desigualdade. Alejandra Hernández Muñoz aponta que pintar várias telas de forma sincrônica, como faz Nelson, pode ser entendido como “uma negação da pintura enquanto objeto autônomo”. São “‘famílias’ de trabalhos com perfis de cor, estrutura e textura cotejáveis”; ainda de acordo com suas palavras, são “anjos baldios, quase ubíquos, definidos pelas camadas de tinta e intangíveis além do suporte da tela”. (MUÑOZ, 2010)

Seu nome está registrado nos seguintes livros: +Cem Artistas Plásticos da Bahia (Galeria Prova do Artista, 2001), Artes Visuais na Bahia (Academia de Letras e Artes do Salvador, 2002), Acervo ACBEU de Artes Plásticas (Associação Cultural Brasil-Estados Unidos, 2003), Revista da Bahia (FUNCEB, 2005).

A atividade literária de Magalhães Filho o acompanha há muito, escrevendo poesias. É um dos fundadores da revista Reflexos de Universos no final dos anos 1970. Tem poemas publicados em jornais, como A Tarde (BA) e Leia (SP), e na revista Exu (Fundação Casa de Jorge Amado).

Um novo universo se abriu quando ele conheceu a poesia de Rimbaud, a literatura de Borges, Cortázar, Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Juan Rulfo; a filosofia de Friedrich Nietzsche, os escritores da geração beat, pois as suas referências literárias estão diretamente conectadas ao sentido que dá a seus questionamentos existenciais.

Escreveu alguns livros de poemas: As Luminárias, Anjos Baldios, Imagens do Portão, A Flor do Láudano, A Cara do Fogo e Cachorro Rabugento Morto em Noite Chuvosa (2010). Sobre este, a escritora Kátia Borges comentou: “A arquitetura de seus versos é a dos sonhos. Cada leitor lhes empresta sua lógica. Não há segurança, mesmo quando se parece pisar território firme. De repente, numa frase, prédios semânticos inteiros desabam, “neste tempo perdido no mar negro”, e mitos podem sustentar com apenas um dedo gigantescas estruturas.”

As figuras poéticas de Nelson, conforme Borges, são “poesia que transborda, esparrama, selvagem, cães, tigres, dentes e garras no cotidiano”. Já Lima Trindade menciona que: “Tigre, cachorro, cavalo e anjo são figuras poéticas que se metamorfoseiam constantemente para exprimir uma rebeldia nada redentora” e que o “universo de Nelson é sem estrelas. Uma lua paira e ilumina os corpos sombrios, lânguidos e bêbados de quem satisfez o desejo”. (TRINDADE, 2010)

Nelson também atuou, escreveu e dirigiu várias peças no Teatro do Porão (Casa da Cultura Galeno d’ Avelírio, Cruz das Almas, BA), assim como participou de diversas Oficinas de Teatro (Interpretação) com técnicos da Fundação Cultural do Estado da Bahia. Nos anos 1990, fez parte de uma banda pós-punk experimental, o Cabaret Neopatético, com Graça de Sena (atriz de seu filme Cartas para Inêz), e Beto Rebelde, influenciada pelo Velvet Underground, Tom Waits, Nick Cave dentre outros. Tocava guitarra meio performática e recitavam os poemas durante as apresentações. (MAGALHÃES FILHO. Entrevista, 30 jun. 2020)

Na adolescência, ia a cinema na cidade de Cruz das Almas. Ainda no curso de Artes Plásticas, na EBA – UFBA conheceu o cinema de arte, e autoral, nas aulas de Estética do Professor “Saja”. Nessa época, morava no bairro dos Barris, na casa da sua tia Olga, e frequentava assiduamente a Sala Walter da Silveira e o cinema do ICBA, no Corredor da Vitória, onde assistiu vários clássicos do cinema alemão e russo; filmes do Andrei Tarkovski, Serguei Eisenstein, dentre outros. É admirador da obra de David Lynch, Wim Wenders, Pier Paolo Pasolini, Werner Herzog, Rainer Werner Fassbinder, Godard, Luis Buñuel e Walter Lima Júnior, dentre outros. (MAGALHÃES FILHO. Entrevista, 30 jun. 2020)

Depois de sua graduação em Artes Plásticas, fez incursões pela videoarte e realizou curtas-metragem de cunho experimental. (MAGALHÃES FILHO, 2019, p. 8) Como vídeo-realizador participou de diversas mostras de cinema e vídeo: Mostra Cinema Fantástico (Ilha Comprida, SP, 2006), Empuxo (Circuito de Arte Eletrônica em Vídeo, Galeria ACBEU, 2005), do IX, X, XI e XII Festival Nacional de Vídeo Imagem em 5Minutos (FUNCEB, 2004, 2005, 2007 e 2008), da VIII Bienal do Recôncavo, dentro da Mostra Paralela de Vídeos, no Centro Cultural Dannemann, em São Félix, BA, em 2006, e do Programa I Nova Produção do Cinema Baiano, dentro da 34ª Jornada Internacional de Cinema da Bahia, na Sala Walter da Silveira, em Salvador, BA, em 2007. (ANJO BALDIO)

Em 2006, criou o blog Anjo baldio (anjobaldio.blogspot.com) para divulgar seus trabalhos artísticos: peças de teatro, poemas, textos, desenhos, pinturas e filmes. Esse meio é espaço para textos e imagens que dialogam de forma surpreendente. Do título do blog deriva do título de sua exposição Anjos Baldios, realizada em 2015, no Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira, em Feira de Santana; denuncia esse vácuo por onde pairamos.

Entre os prêmios em videoarte que recebeu estão: Menção Especial na X Bienal do Recôncavo (Centro Cultural Dannemann, São Félix, BA), 2010. Nesse mesmo ano, realizou o filme Dolls Angels (2010) que questiona “a relações entre a infância e a perversidade. O boneco do título, que é um objeto de afeto e recordações, é recolocado num contexto marginal” (MAGALHÃES FILHO, 2019).

Ingressou no Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, na cidade de Cachoeira, Bahia, que concluiu em 2019. É desse período o filme Cadet Blues (04’23″), 2012 (Menção Honrosa no XV Festival Nacional 5 Minutos, 2012, Salvador – BA e Menção Honrosa no I Cine Virada Cultural – I Festival Interno de Cinema e Audiovisual da UFRB, 2012, Cachoeira – BA).

Em 2019, realizou o filme Cartas para Inêz (Trabalho de conclusão do Curso de Cinema e Audiovisual – UFRB, orientado pela Prof.ª Angelita Bogado), um curta-metragem de ficção, no qual homenageia as suas avós (Inêz e Belinha).

(FONTE: http://www.dicionario.belasartes.ufba.br/wp/?verbete=nelson-magalhaes-filho&letra=&key=&onde= )

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