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O VAPOR DE CACHOEIRA

Apesar de pouco falado em Cruz das Almas, mas o “VAPOR DE CACHOEIRA” foi parte importante da história e do desenvolvimento econômico da nossa cidade. Muitos ainda guardam na lembrança, e com saudade, as viagens de trem ou de marionete até Cachoeira e, de lá, até Salvador navegando pelas águas do Paraguaçu embarcados no lotado “Vapor”.

Em 04 de outubro de 1819, portanto, há exatamente 201 anos, acontecia a viagem inaugural do “Vapor de Cachoeira”, onde navegara quase dois séculos em águas baianas. Esta foi a primeira embarcação a vapor a circular na América do Sul, foi uma revolução para a época. Ao longo das décadas seguintes esse meio de transporte impactou significativamente a vida dos baianos, não só pelo aspecto econômico mas, principalmente, pelo que ele representou para a vida social e cultural da Bahia, entre o século XIX até meados dos anos 60 do Século XX.

Navegando pelos vales verdejantes do Recôncavo, por entre ruínas de fortes e conventos da era colonial, foi testemunha do apogeu dos engenhos de açúcar e , em seguida, transportou as riquezas geradas pelo cultivo e industrialização do fumo, que fizeram a força econômica de Cachoeira e São Felix até a década de 1930.

O Vapor de Cachoeira levava produtos manufaturados até o Recôncavo e daí eram levados em tropas de burros – e mais tarde de trem – para o Sertão. Na rota inversa, trazia para o litoral tudo o que o sertão produzisse. No Império, foi o trem, que em Cachoeira interligava-se ao transporte fluvial, o grande impulsionador do desenvolvimento.

Imaginemos quantos romances (namoros, noivados e casamentos) nasceram, em face do trajeto Cruz das Almas/Cachoeira/Salvador e que devem estar unidos até hoje.

Dr. Orlando Pereira, médico cruzalmense nascido em Cachoeira, relata-nos: “Quando estudante no Gynazio da Bahia, era em 1943 o único transporte para Salvador. Morava em Cachoeira e viajei bastante no navio Paraguaçu , guiado pelo comandante Dedé. Quantas vistas lindas e as saudades que nos deixou …. dá-me vontade de chorar. Obrigado pela lembrança .
Importante dizer que minha única namorada, que veio a ser a minha saudosa e querida esposa, namoramos bastante no “ Vapor que não navega mais no mar”.

Também, Cyro Mascarenhas conta-nos: “Uma boa lembrança. Ainda me recordo da minha primeira viagem a Salvador, em 1955, chegando à Baía de Todos os Santos e avistando ao longe a cidade iluminada. Cena inesquecível.
A chegada a Cachoeira para pegar o vapor não era muito fácil. Tinha a marinete de Baratinha.
O pior é que o navio dependia da maré cheia para sair de Cachoeira, senão encalhava. A cada dia o navio saia em hora diferente porque dependia da maré. Às vezes saímos tarde da noite de Cruz para pegar o navio que partia de Cachoeira de madrugada. No meio da rota parava em Maragogipe, onde entravam novos passageiros. Quando chegava na assim chamada “meia travessa” (ponto que o Paraguassu desemboca no oceano) o navio “jogava” muito. O balanço era tanto que muita gente enjoava, não raro vomitando. A chegada no Porto era um alívio.”

Edson Chiacchio recorda-se: “Década de 50. Pegava a Marinete de Artur Martins, saindo para Cachoeira, passando por Cabeças, Muritiba, S. Félix, a ponte a atravessar e o destino final…
Era uma grande aventura para um garoto de 10 anos…
Era maravilhoso! A viagem até Salvador durava 6 horas, passando por Nagé, Coqueiro, Maragogipe e São Roque… até aí tudo tranquilo. Quando chegava ao mar, Baía de Todos os Santos, na meia travessa, o navio jogava muito, balançava demais….Era muita gente mareada e vomitando…
Enfim chegávamos a Salvador…”

Assim, o “VAPOR DE CACHOEIRA” tornou-se um mito para o povo do Recôncavo, pois fomentou a economia entre as regiões litorânea e sertaneja da nossa Bahia.

A navegação do “VAPOR DE CACHOEIRA” teve sua linha desativada no ano de 1967.

Vamos resgatar a sua história, pois o que dela resta é apenas saudade…

(Fonte: Página Bahia… terra do já teve in Facebook)

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