CRUZ DAS ALMAS

SOBRE A ESTRADA REAL

Sobre a discussão da Estrada Real ter sido ou não caminho para os tropeiros que passavam por Cruz das Almas nos seus primórdios, eis o que nos trazem os pesquisadores Ubaldo Marques Porto Filho e Mateus José da Silva Santos, em interessantíssimos trabalhos a respeito.

Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e do Instituto Genealógico da Bahia, a partir de 2012,  Ubaldo Marques Porto Filho passou a se dedicar intensamente às pesquisas sobre os Caminhos do Ouro na Bahia, durante o século XVIII, resultando na elaboração do seu livro ‘Estrada Real da Bahia’:

De 1731 a 1734, o sertanista Joaquim Quaresma Delgado, contratado pelo Governo da Colônia, percorreu os sertões da Bahia para mapear os caminhos por onde penetravam os povoadores e por onde circulavam os tropeiros, as mercadorias e as riquezas minerais. Naquela época, a Bahia era uma grande produtora de ouro, extraído das minas de aluvião, localizadas em três núcleos: Jacobina, Rio de Contas e Minas Novas.

Joaquim Quaresma catalogou quatro caminhos que seriam parte das antigas rotas da Estrada Real na Bahia, assim identificados:

  • Caminho do Ouro Fino (de Jacobina a Salvador);
  • Estrada Real (de Jacobina a Rio de Contas);
  • Caminho de Itacambira (de Minas Novas do Araçuaí a Rio de Contas); e,
  • Caminho do Ouro da Boa Pinta (de Rio de Contas a Cachoeira/Porto de São Félix).

Dos quatro caminhos coloniais, o mais movimentado foi o do Ouro da Boa Pinta, que terminava ou começava na margem direita do Rio Paraguaçu, no povoado de São Félix. Esta localidade se constituía na principal via de acesso aos sertões da Bahia, de Minas Gerais, de Goiás e do Mato Grosso. Portanto, pelo Caminho do Ouro da Boa Pinta, subiam as famílias e os escravos dos povoadores, além das mercadorias e tudo de necessário às fazendas e povoados que foram surgindo no sertão. E do sertão desciam as riquezas minerais até São Félix, o ponto terminal do longo percurso terrestre, onde eram embarcadas, pela via fluvial-marítima, para Salvador, a capital da colônia portuguesa.

Já o Graduando em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Mateus José da Silva Santos, em seu trabalho intitulado “No planalto há um cruzeiro? Reflexões sobre uma história cruzalmense” apresentado no IX Encontro Estadual de História, traz à luz o seguinte:

(…) algumas das codificações dos locais de parada nos roteiros de viagem, elaborada por Erivaldo Fagundes Neves e Antonieta Miguel (2007) acerca da mesma estrada em 1721, baseada na expedição de Pereira da Costa, observe que o traçado é praticamente o mesmo, modificando apenas alguns dos pontos citados:

De Cachoeira (Freguesia de São Pedro) a Rio de Contas:

01. Freguesia de São Pedro (Cachoeira)

02. Aporá Pequeno

03. Fazenda Genipapo (Município de Castro Alves)

04. Fazenda Curralinho (Origem da Vila de Castro Alves)

Tanto o mapa como a descrição citada anteriormente não indicam nenhum pouso chamado Cruz das Almas e nem mesmo cita alguma localidade que faziam referência ao núcleo original da cidade. Apesar de, se considerarmos o período histórico em estudo, o chamado Caminho do Ouro da Boa Pinta abranger também partes da Freguesia do Outeiro Redondo, o fato é que o mesmo não engloba nem a sua sede e nem tampouco as áreas mais próximas da mesma. A dita estrada para o sertão citada pela narrativa tradicional, portanto, não foi aquela que se tornou uma das rotas mais realizadas no interior da Capitania da Bahia.(…)

(FONTES: SOUZA, Oséas Fernando Oliveira de. HISTÓRIA E MEMÓRIA DE SÃO FÉLIX – CIDADE PRESÉPIO. Cachoeira: Portuário Atelier Editorial, 2018. SANTOS, Mateus José da Silva. NO PLANALTO HÁ UM CRUZEIRO? REFLEXÕES SOBRE UMA HISTÓRIA CRUZALMENSE. http://www.encontro2018.bahia.anpuh.org/resources/anais/8/1534697387_ARQUIVO_Noplanaltohaumcruzeiro.pdf )

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