O COMENDADOR TEMÍSTOCLES E A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA EM CRUZ DAS ALMAS.
Entre os senhores de engenho da Freguesia de Cruz das Almas, o que possuía maior quantitativo de escravos e notoriedade política era o coronel Temístocles da Rocha Passos, pertencente da família Rocha Passos, com vários membros da família possuindo cargos militares. Nascido na freguesia de Cruz das Almas em 1832, filho de legítimo de Manoel Caetano de Oliveira Passos e de Balbina Maria do Amor Divino, seu pai foi cadete da companhia “Belona” que lutou “em toda a campanha da independência” (SANTANA, 1997, p.89). Ao longo da sua vida construiu uma importante carreira política na cidade de Cachoeira e por último, em Cruz das Almas, sendo membro do Partido Liberal. Exerceu mandado de vereador em Cachoeira de 1865 a 1868, ficando na década de 1870 sem cargo político voltando a ser vereador entre os anos de 1881 e 1882, sendo escolhido presidente da Câmara Municipal, com a volta do Partido Liberal ao poder. Foi eleito deputado federal, de 1882 a 1883, e reeleito para mandato de 1884 a 1885. Elegeu-se novamente a deputado federal nos anos de 1888 e 1889, sendo vice-presidente da mesa da assembleia e tenta reeleição, já no período republicano, de 1890 a 1891, que não se realizou por ter sido dissolvidas e extintas as assembleias provinciais pelo Governo Provisório (SANTANA, 1997, p.90-91). Apresentar o resumo da vida política de Temístocles da Rocha passos elucida algumas atitudes tomadas pelo político e fazendeiro, que se tornou notório por ter libertado uma quantidade significativa de escravos de uma só vez na Comarca de Cachoeira. Entretanto, outras fontes esclarecem que a libertação de seus escravos não foi uma atitude benemérita, mas algo que aconteceu no Recôncavo e em outras regiões escravagistas no país, visto que a escravidão estava prestes a sucumbir e os senhores buscavam alternativas para não perder sua mão-de-obra em meio “a desobediência e insubordinação escrava” (FRAGA, 2014, p.106). Apesar de pouco referenciada, a Freguesia de Cruz das Almas possuía um número significativo de senhores com posses, investigado por Uelton Rocha, mas com dados analisados em conjunto com as freguesias de São Pedro da Muritiba e Outeiro Redondo. Para as três freguesias Rocha aponta o índice de 31% de escravos no rol de bens inventariados na última década da escravidão, entre 1880 a 1889, sendo que na vigência do tráfico ilegal de escravos a mesma região alcançou índice de 45% (ROCHA, 2015, p.137). Tais informações podem ser comprovadas a partir de anúncios de jornal, como em O Progresso de 1877, em que foi publicado uma lista de escravos residentes no município da cidade de Cachoeira para serem libertos a partir da “quota de 42:006$150 do fundo de emancipação”. Na lista aparece o nome dos escravos e seus senhores de toda a Comarca de Cachoeira, inclusive da Freguesia de Cruz das Almas, entretanto, não constando nenhum escravo da família Rocha Passos. Foram listados os senhores de Cruz das Almas Felisberta Maria da Conceição com dois escravos, Jacinto José Ribeiro com um escravo, Feliciano Procópio dos Santos com um escravo, José Antonio Fiusa com um escravo, D. Ana de Jesus Athaide com um escravo, Maria Florinda Sampaio com um escravo, Plácido José Novais e Albuquerque com um escravo, José Rodrigues de Souza com um escravo, de José Egídio da Rocha Medrado com três escravos, Jacinto Ferreira Borges com um escravo, Jacinto José de Souza com um escravo e de Anna Carolina do Sacramento com um escravo. Dos quinze escravos listados, apenas um era idoso com 74 anos, todos casados, com ofício de agrícola ou vaqueiro (O PROGRESSO, 1877, p. 1). Não foi encontrada nenhuma informação a respeito da liberdade de escravos da família Rocha Passos a partir do Fundo de Emancipação. Observou-se que a família Rocha Passos quando dava a liberdade para algum escravo buscava realizar com notoriedade, com carta publicada em jornal a fim de demonstrar a benevolência dos senhores. (…)
É preciso analisar, com muita cautela, a imagem do coronel Temístocles da Rocha Passos sendo apresentada como um abolicionista ou benemérito dos escravos por ter libertado dezenas de escravos algumas semanas antes do fim da escravidão como veremos adiante. O coronel, antes de tudo era um político, que já tinha sido vereador algumas vezes e estava no terceiro mandato de deputado federal, membro do Partido Liberal, mas senhor de grande extensão de terras na Freguesia de Cruz das Almas. (…)
(FONTE: O CORONEL TEMÍSTOCLES DA ROCHA PASSOS E O FIM DA ESCRAVIDÃO NA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DO BOM SUCESSO DA CRUZ DAS ALMAS-BA, escrito porSura Carmo in
http://www.encontro2018.bahia.anpuh.org/resources/anais/8/1532398896_ARQUIVO_anpuhbahiaartigocompletosuracarmo.pdf )
Você está mais para historiador do que mesmo cerimonialista – eta nome comprido! Só não localizei meu bisavô na parada! Gosto do seu blog. Caprichado.