CRUZ DAS ALMASCULTURAMEMÓRIA

AS ESPADAS DE FOGO DO SÃO JOÃO DE CRUZ DAS ALMAS: HISTÓRIA, TRADIÇÃO E POLÊMICA.

As espadas 

espadaA espada originou-se do diabinho ou mosquito, canudinho de papel de cerca de 5 centímetros de comprimento por 3 a 4 milímetros de diâmetro, cheio de pólvora socada que corria doidamente nos passeios, trepava nas paredes ou arrancava do solo e se extinguia no ar; mas também muitas vezes, indiscreto e malicioso, metia-se debaixo das saias, provocando sapateados, gritos e carreiras. Depois surgiu o busca-pé chorão, assim chamado porque apenas corria e chiava, inapto a explodir. Esse já era feito de um pequeno gomo de taquara, reforçado exteriormente por um carbonato enrolado em espiral, e fechado com barro de massapê em ambas as extremidades. Numa delas, o fogueteiro abria com a broca o orifício do mesmo nome e, enchendo-o com pólvora umedecida para melhor aglutinação, preparava a escóva do artefato, protegendo-a, afinal, com um taco de papel enrolado e fechado à guisa de tampa. Em tamanho maior, chamava-se besouro, porque já roncava seu bocado; cometia maiores desatinos e podia vulnerar seriamente a quem topasse descuidado. Aí, chegava a vez do busca-pé de estouro, engenho preparado com especial atenção. Dentro do tubo e próximo de uma das pontas, o artífice arrumava o material detonante, e quando enrolava o fio, cuidava de marcar o local, dando aí mais largo passo à espiral. Devia-se pois, como medida de precaução, segurar a peça abaixo dessa marca, para menor risco no caso de um jibu (ou chabu), isto é, de um estouro prematuro. O busca-pé de limalha ou, abreviadamente, o limalha, era o membro maior da espécie, fabricado com os requintes da arte do busca-pé de estouro, mas recebendo no seu conteúdo inflamável certa porção de pó de aço ou de vidro. Resultava daí que o poderoso jato de fogo que escapava pela broca era uma chama branca e deslumbrante, em vez de avermelhada e fumarenta produzida pela combustão da pólvora homogênea. Esse era a arma legítima dos antigos combatentes, tão belos quanto perigosos. Nos tempos dessas justas formavam-se grupos capitaneados por um cidadão mais influente ou de mais largas posses, e dirigiam-se ao encontro uns dos outros, às vezes para ajuste de rivalidades que vinham de anos anteriores. Conduzindo os busca-pés prudentemente presos ao cinturão, com a broca para baixo, o que nem sempre evitava acidentes, ou resguardados em bornais de couro, os novos falangitas usavam muitas vezes luvas e casaco desse material, molhados de vez em quando, por precaução. Defrontavam-se os grupos ao acaso ou em lugares previamente marcados – uma rua mais larga, uma praça de igreja. E então, colocando-se estrategicamente, cada legionário empunhava seu buscapé, rasgava o papel da escóva e encostava-lhe o cigarro ou o charuto, quando não o acendia na fogueira que ia ser defendida do ataque inimigo. Em alguns, nada disso era preciso: bastava batê-lo de fronte numa superfície dura, e uma pequena porção de massa detonante produzia a fagulha inicial. A princípio hesitante, enquanto queimava a pólvora exterior, logo de dentro do tubo surgia a espada, uma chama resplandecente, sibilante, poderosa, capaz de arrancá-lo da mão que o prendia e levá-lo para longe, para o ar, doidamente, perigosamente.

O fabrico Encerando barbante

As espadas são fabricadas utilizando-se salitre, enxofre, carvão de quarana (pólvora); barro, bambu maduro cozido e seco, cordão de sisal, encerado com breu, parafina e cera de abelha.

A tradicional “Guerra das Espadas”

A  chamada “Guerra das Espadas”, na verdade é  um espetáculo de luzes, cores e coragem apresentado em algumas ruas reservadas das cidades. Uma legião de brincantes, mais conhecidos como espadeiros, usam roupas e proteções especiais, como uma espécie de armadura, para soltar espadas e brincar com elas e exibir suas habilidades com o artefato, um verdadeiro show de luzes.

A polêmica

Em 2011, uma decisão judicial teria proibido a tradicional Guerra de Espadas na cidade de Cruz das Almas. Embora sendo tradição na cidade, o fabrico e queima  das espadas é considerado ilegal pela Justiça. O Ministério Público da Bahia pediu a proibição alegando risco à população, o que não foi suficiente para deter os espadeiros que as manusearam livremente pelas ruas de Cruz das Almas no ano seguinte.  A favor da queima das espadas, foi organizada uma manifestação pacífica em frente ao Fórum de Justiça e, naquele ano, a manifestação tomou tão grande proporção que chegou a chamar a atenção da mídia nacional. O objetivo da manifestação era a “Não Proibição e Sim a Regulamentação”, não deixando acabar a tradição.

(FONTES: Mídia Reconcavo; www.enadiocareca.com.br/2013; www.zederocha.blogspot.com.br/2011; www.skyscrapercity.com/jhunyor, 2010)

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